
Como reativar nos dias de hoje, em suas distintas situações, a potência política inerente à ação artística? Este poder de encarnar as mutações do sensível participando assim da reconfiguração dos contornos do mundo.
(Sueli Rolnik)

RECICLAGEM
DAS EMOÇÕES
LIBERTAÇÃO
DO IMAGINÁRIO
ECOLOGIA
PROFUNDA
SEXUALIDADE
SAGRADA
ECONOMIA DA
ENERGIA VITAL
AJUDA MÚTUA
ESPECULAÇÕES IDEOLÓGICAS DA VAV
Os 3 eixos principais de atuação da VAV – libertação do imaginário, reciclagem das emoções e economia da energia vital – visam proporcionar o desenvolvimento sustentável dos outros 3 eixos:
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ajuda mútua como princípio básico para manutenção da vida.
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ecologia profunda, que se despe do antropocentrismo, garantindo o equilíbrio da biosfera.
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sexualidade sagrada como uma energia que movimenta as trocas e relacionamentos criativos e criadores no universo.
LIBERTAÇÃO
DO IMAGINÁRIO
"Ninguém educa ninguém, os homens se educam entre si, mediados pelo mundo."
(Paulo Freire)
A VAV investe no resgate de cosmologias ancestrais e contemporâneas que enxergam o ser humano integrado com o meio-ambiente. Mais do que nunca se faz necessário restaurar conhecimentos que foram apagados e deturpados, mas também descolonizar* o imaginário impregnado pela dinâmica da competição predatória (patriarcal), liberando espaço para o florescimento da subjetividade e da autonomia criativa de cada indivíduo. A VAV se dedica à escavar raízes e oferecer instrumentos para que cada um possa fazer a conexão direta com a sua própria verdade.
ECONOMIA DA
ENERGIA VITAL
"Você nunca muda as coisas combatendo a realidade existente. Para mudar algo construa um modelo novo que torne o modelo atual obsoleto."
(Buckminster Fuller)
Atualmente, a sociedade e o meio-ambiente sustentam a economia global. A VAV acredita que precisamos inverter essa lógica: a economia precisa estar à serviço do desenvolvimento sustentável da nossa energia vital. As reservas planetárias, sendo finitas, não sustentam um crescimento econômico (exponencial) infinito com sua hiperprodutividade de bens materiais e energia não-renovável. Portanto, investimos em ações, transações e sistemas financeiros inspirados na circulação sanguínea e nos ciclos da natureza. A economia da energia vital é uma economia que produz mais espaço para a brincadeira, o descanso e a celebração.
RECICLAGEM
DAS EMOÇÕES
"Quando começamos a reconhecer nossos sentimentos mais profundos, começamos a desistir, por necessidade, de estarmos satisfeitos com o sofrimento, a autonegação e a dormência, que tantas vezes parece ser a única alternativa em nossa sociedade."
(Audre Lorde)
As emoções podem ser vistas como um impulso para nos colocar no movimento necessário, pois emoção significa justamente “energia em movimento”. Trata-se de não asfixiar nosso processo vital e direcionar essa energia para que ela possa fluir. As ações da VAV são rituais de reciclagem das emoções, um processo de compostagem, transformando a crise em adubo fértil para uma nova vegetação emergir. Quando conseguimos reciclar as emoções, os conflitos não são vistos como problemas, mas como oportunidades para usar nossa potência criativa e transformar paisagens internas e externas. O desconforto se torna, então, um convite à expansão.
Como esses 3 eixos se integram?
Esses 3 eixos principais de atuação da VAV estão interconectados no movimento de criar alternativas às dinâmicas de controle e opressão que regem o mundo atual. Os mecanismos de dominação se valem do medo, da alienação dos nossos próprios sentimentos e da manipulação do nosso imaginário para que nós possamos moldar a realidade de acordo com as suas intenções. Portanto, para nos livrar de uma dinâmica econômica opressiva, a VAV aposta na necessidade de reciclar as nossas emoções e libertar o nosso imaginário.
A palavra “economia”, criada por Xenofonte na Grécia Antiga, deriva da junção dos termos gregos “oikos”(casa) e “nomos” (costume, lei), resultando em “regras ou administração da casa, do lar”. Portanto, para desenvolver uma economia verdadeiramente sustentável para a manutenção da nossa energia vital, precisamos nos perguntar: essa economia é sustentável para a nossa “casa”: o planeta Terra e os seres vivos que nela habitam?
Com o intuito de criar um novo paradigma econômico, a VAV propõe imaginar que a economia é um coração que bombeia o sangue pelo corpo. O sangue, nesse caso, seria o dinheiro, facilitando a nutrição e as trocas entre os órgãos do corpo social. Se o sangue/dinheiro ficar bloqueado em alguma parte do corpo, ele irá coagular e, se for desviado com um corte, irá comprometer todo o organismo.
Observe também que as veias do corpo não são irrigadas sempre da mesma maneira. Dependendo da atividade - correr, comer, cantar - o sangue irá se deslocar em ritmos, locais e intensidades bastante diversas. Acontece a mesma coisa quando sentimos alguma emoção, o sangue se concentra mais intensamente em determinadas regiões do corpo. Quando sentimos raiva o sangue circula no corpo (e nos olhos!) com mais intensidade, aumentando a força corporal e a capacidade de responder às adversidades.
Se pensarmos o dinheiro como sangue ou como energia vital, é fundamental administrá-lo de maneira que circule adequadamente, sem arritmias. E as emoções também, pois essa palavra significa justamente “energia em movimento”. A VAV não enxerga as emoções como “boas” ou “ruins”, acreditamos que são todas necessárias para a regulação das relações intra e interpessoais. O processo de alfabetização emocional é subjetivo e ao mesmo tempo coletivo, se desdobrando por toda a vida sem um objetivo pré-determinado. A gestão das emoções e a resolução dos conflitos é um labirinto fascinante e incontornável (que me debruço tendo minha própria vida e seus desafios como instrumento de pesquisa).
A VAV se propõe em resumir esse labirinto em um só rio que corre para o mar: Todas as emoções derivam do amor ou da falta dele. Essa é uma afirmação aparentemente simples, mas é de uma enorme complexidade. Acreditamos que em tudo o que nós seres humanos fazemos, mesmo nos crimes mais hediondos que cometemos, no fundo estamos buscando evitar a morte, ou seja, amar e sermos amados.
Numa das interpretações etimológicas da palavra “amor” – do latim a = negação, mors = morte –, amor significaria: “sem morte”. Tudo o que buscamos na vida é não morrer, ou seja, amar. Por mais que essa energia que nos move (o amor) esteja soterrada no nosso inconsciente e o movimento que façamos para obtê-la esteja nos distanciando profundamente dela. A necessidade de acúmulo excessivo de dinheiro e poder - subjugando, oprimindo e até mesmo acabando com outras formas de vida - pode ser uma estratégia trágica e equivocada de suprir sentimentos de inferioridade de alguém que não se sentiu suficientemente amado ou teme morrer .
dinheiro = recurso = nutrição = sangue = energia vital = emoção = não morrer = amor
A Vendo Ações Virtuosas investe, portanto, na economia da energia vital através da gestão adequada dos nossos recursos, mas também dos nossos sentimentos. E para isso é fundamental descolonizar paradigmas e libertar nosso imaginário, integrando economia (da energia vital), gestão das emoções e educação. A moeda Afeto e a Bolsa de Valores Éticos foram as estratégias que criamos para sintetizar e colocar em prática esses 3 principais eixos de atuação da VAV.
ECONOMIA COMO AMOR INCONDICIONAL:
A pandemia que estourou em 2020 exacerba uma crise profunda no sistema circulatório da nossa sociedade: a economia. A economia administra a circulação dos glóbulos/moedas que mantém a energia vital do organismo social, impondo o ritmo da produção e das transações humanas. Mas a produtividade não pode continuar a crescer infinitamente num planeta com reservas finitas. E quando esse ritmo se acelera de maneira desumana e desnatural, ele pode levar o funcionamento da comunidade humana a uma arritmia ou um ataque cardíaco fulminante. Mas VAV acredita que a Terra é um ser senciente e tão evoluído que foi capaz de criar nós, seres humanos, e todos os nossos irmãos: as pedras, os rios, as árvores, os peixes, as baratas, as bactérias, os vírus e por aí vai. Ou seja, a Terra sente, pensa e dança em conexão com todos os astros do céu.
Em meio a essa crise cardíaca provocada pela economia, surge um vírus que desacelera a circulação do sangue no nosso corpo. Economia significa “gestão da casa” e durante a (infinita) quarentena covidiana fomos justamente convidados a ficar em casa para administrar a saúde do corpo coletivo. Esse vírus provoca um distúrbio no sistema circulatório, que se torna lento e pesado, fazendo com que a pessoa infectada possa vir a óbito.
Ao coagular o capital, ele se torna um “capital improdutivo” (Doubor, 2017) e essa energia vital deixa de fluir pela sociedade. Isso faz com que a economia promova a escassez gerando degradação ambiental e caos social. E para sustentar uma estrutura de dominação e competição predatória, se torna fundamental a exacerbação do fascismo com a implantação de necropolíticas racistas, machistas, lgbtfobicas, ecocidas, repressoras, etc. Entretanto, o egoísmo como estratégia de sobrevivência é uma auto-sabotagem, um tumor que compromete o funcionamento de todo o sistema.
Numa lógica de economia circular e abundante, que pulsa com o coração da Terra, a liberdade do outro não ameaça a nossa própria liberdade, pelo contrário, ela é inspiração e impulso para a emancipação de todes. Assim como na natureza, a cooperação e a ajuda mútua se tornam a melhor estratégia de sobrevivência das pessoas e do meio ambiente, mas também das empresas e da economia como um todo. “La salida ès coletiva” como diz o coletivo Artistas Autoconvocades Argentines.
Se é possível salvarmos o planeta? Não. Mas talvez ainda dê tempo de o planeta nos salvar."
(Alton Krenak, 2020)
A economia atual é baseada no crescimento da produção de bens de consumo materiais, porém a saúde de um corpo social não se mantém somente através do consumo de bens materiais. Precisamos valorizar as tecnologias da própria natureza, as tecnologias de povos ancestrais (e transtemporais) que se preocupam com a nutrição dos nossos corpos tanto materiais quanto sutis: o corpo emocional, mental e espiritual. Investindo em “tecnologias da energia vital” (Goswami, 2015), como alquimistas que nos religam à natureza, ao coração da Terra e aos astros do céu.
Pandemias planetárias nos colocam justamente diante do fato de que não iremos nos salvar sozinhos e portanto a administração e regras da nossa casa planetária devem obedecer a valores éticos comuns a todes, sem exceções. Num corpo social saudável, a economia bombeia energia vital de maneira em que todes, independente do seu “resultado produtivo”, tenham acesso às necessidades básicas para o bem-viver. A economia da energia vital parte do princípio de que todes somos importantes e o que é bom para a gente precisa ser bom para o coletivo.
Uma sociedade desigual, “que distribui amor de maneira condicionada”, gera muito mais despesas com doenças, violência, segurança, agrotóxicos, guerras, poluição, etc.
Sem contar com o sofrimento psicológico, a fome e a falta de qualidade de vida. E, mesmo assim, tudo isso pode fazer com que o PIB cresça. Esse índice, que se tornou o objetivo da economia mundial, mede somente os fluxos de capital, mesmo quando eles estão gerando guerras, destruição ambiental, sofrimento ou doenças. O amor é a energia que tudo move, mas quando ele é condicionado e dirigido somente à uma parcela da população humana, o amor pode promover guerras religiosas, degradação ambiental e genocídios de populações marginalizadas.
Crise econômica corresponde no nosso corpo ao mau funcionamento da circulação sanguínea, ao mau relacionamento entre as células, mas também à má gestão das nossas emoções. Portanto, enquanto não conseguirmos - individualmente e coletivamente - aprender a gerir nossas emoções, nossa economia continuará a ser uma economia da escassez, que promove a exploração do Outro (incluindo a biosfera). A VAV acredita que, para isso, é necessário fazer uma lavagem da energia do dinheiro, até o ponto em que as trocas e as transações humanas se tornem tão fluidas e conscientes que não sejam diferentes do amor incondicional.
"É preciso deixar o território falar."
(Milton Santos)

Crise econômica corresponde à má circulação do sangue e à má gestão das nossas emoções.
Lívia Moura, pintura sobre papel fotográfico, performance Lívia Moura . Foto: Rafael Adorjan, 2019